data-filename="retriever" style="width: 100%;">David Irving é um escritor britânico sem nenhuma formação acadêmica, mas com muito tempo livre, significativa capacidade retórica e pouco pudor. No fim dos anos 1980, se dizendo historiador autodidata, resolveu abraçar a tese de que não existiu holocausto durante a Segunda Guerra.
O morticínio de judeus, segundo Irving, não passaria de uma mentira contada para alimentar uma suposta "extorsão ao povo alemão". O desvario negacionista de David Irving, no entanto, tinha base frágil. Além de desconsiderar toda e qualquer evidência histórica, Irving se baseou em trabalhos de Ernst Zundel, um fotógrafo alemão radicado no Canadá.
Ernst Zundel, por sua vez, alardeava um relatório elaborado por Frederick Leuchter, um americano também sem formação científica nenhuma que, contratado por ele próprio, viajou até o campo de Auschwitz para "atestar" que "nunca houve qualquer tentativa de extermínio exercida naquelas instalações".
A farsa de David Irving foi desmontada quando ele próprio tentou provar na Justiça sua tese. Em sentença, o Judiciário inglês reconheceu que Irving não tinha razão e, mais do que isso, que agiu de má fé ao, por razões ideológicas, "deliberadamente deturpar e manipular as evidências históricas".
Ernst Zundel, antes disso, já havia sido condenado, tanto no Canadá, quanto na Alemanha, por divulgação de informações falsas, incitação ao ódio racial e negação do holocausto. O relatório de Leuchter, por sua vez, também já havia sido desmentido por cientistas poloneses, alemães e britânicos, bem como por tribunais isentos no Canadá e da Alemanha.
Mas nada disso interessa. O que interessa é que o fato de Irving, Zundel e Leuchter terem sido enfaticamente desmentidos nunca os impediu de fazer muito barulho. Eles venderam livros, fizeram palestras, ganharam notoriedade e, sobretudo, excitaram massas sedentas por teorias conspiratória, inebriadas pela possibilidade de se dizer sabedores de algo que o mundo inteiro ignora, fenômeno que ocorre até hoje.
Daí se percebe que defender o negacionismo nunca foi questão de inferência lógica, ou de ponderação, mas tão somente da vontade cega, irracional e individualista de acreditar em algo confortável e cômodo, mesmo que implausível.
Dito isto, vamos ao ponto. O que vemos hoje? Muito embora as campanhas de conscientização, é cada vez maior a quantidade de informações falsas sendo consumidas e replicadas por pessoas ávidas por qualquer coisa que possa vir ao encontro de suas crenças mais absurdas. É a mentira conveniente.
Neste contexto, jornalistas, cientistas, professores ou quaisquer pessoas minimamente ponderadas que possam vir a desacreditar informações falsas viram "agentes subversivos" a estragar o barato, que é crer em falsidades espetaculosas.
Como combater isso? Não sei. Sou professor, cientista e escrevo artigos para jornal. Sou justamente aquele que não é ouvido por quem deveria ser: os crédulos. Já estou quase entregando meus pontos. E olha que o ano está recém começando.